“Um Guerreiro regressa vitorioso ao espírito após ter descido ao inferno e do inferno ele volta com troféus. A compreensão é um desses troféus.” (Carlos Castaneda)
O caminho do karaté proporciona isso mesmo, a descida ao inferno! Claro que nem todos querem essa longa, árdua e espinhosa via, a maioria opta pelo percurso tranquilo, macio e confortável. Mas esses nunca vão conseguir sentir o profundo e intenso sabor do sucesso.
Mas qual é o nosso inferno afinal? Qual é o nosso calvário? Para mim, e só falo por mim (!), é esta dureza de treino após treino, é a capacidade de suportar diariamente um esforço físico para além do normal, é o ouvir imensas críticas vindas de pessoas que amamos, é a privação de efectuar tarefas comuns aos restantes mortais, é ultrapassar muito para além os limites da saturação.
Todos nós, na nossa vida marcial já sentimos o sabor do sofrimento, mas também do sucesso e às vezes até da vitória. Quando, por exemplo, durante algumas semanas treinamos intensamente a preparação de um exame de graduação, e durante esse período de tempo estamos tensos, apreensivos, stressados, cansados, nem conseguimos dormir, esse é o momento da descida ao inferno! Quando terminamos o exame e sentimos que dê-mos o máximo, esse é o regresso vitorioso! E sabe tão bem!
Quanto maior é o sofrimento para a obtenção de uma meta, maior é o prémio. O karaté dá-nos isso mesmo, o melhor dos troféus, a compreensão, o auto-conhecimento.
Mas para isso é preciso abdicar de muito, é preciso ir lá baixo, é necessário colocar tudo em questão, temos de quebrar todas as barreiras.
Já foram tantas as lágrimas derramadas… Mas muitos mais são os sorrisos lançados... Que caminho o nosso!
No serviço militar ensinaram-me, e tenho sempre esse ideal em mente: “sem sofrimento não há glória!”.
Descortino Sísifo ali na imagem, o herói mitológico que foi condenado pelos deuses a realizar um trabalho inútil e sem esperança por toda a eternidade: empurrar sem descanso uma enorme pedra até o alto de uma montanha de onde ela rolaria encosta abaixo para que descesse em seguida até ao sopé da mesma e ele tivesse de empurrar novamente o rochedo até o alto, e assim indefinidamente, numa repetição monótona, rotineira e interminável. O inferno de Sísifo é a trágica condenação de estar agarrado a uma evolução, a um progresso repetitivo, que ao atingir o seu auge acaba por ter de recomeçar do zero.
ResponderEliminarSísifo foi castigado por uma justiça duvidosa.
Não seremos nós também condenados (ou não como no caso do apito dourado ou do doping no ciclismo como expresso por dois autores cujos textos transcrevi no meu blog)por uma justiça duvidosa no Karaté?
O karaté dá-nos a nossa realização, a compreensão, o auto-conhecimento, mas parece-me que podemos atingir isso sem o "no pain no gain".
Mas que temos de percorrer o caminho, lá isso temos, mas será que não pode ser percorrido com alegria, com prazer, com satisfação? É tudo uma questão de metodologia, de objectivos e de competências...
Grande abraço
Armando Inocentes
VIVA!
ResponderEliminarCada vez mais gosto deste blog!
Considero-o de muita qualidade, um blog que todos nós devemos seguir com regularidade e compreensão. Não só por existirem muitas vezes objectivos comuns mas essencialmente por existir o respeito pela arte em si e por caminharmos todos nós (karatekas) de mãos vazias sem atitudes ofensivas.
Sempre continuarão a ensinar no serviço mititar que sem sofrimento não chegamos à nossa merecida meta. Continuaremos a ouvir dos nossos subalternos e a transmitir com os nossos eventuais subordinados e/ou camaradas que realmente sem haver a 3ºMáxima do Karaté-Do, o esforço, não iremos chegar ao nosso objectivo verdadeiramente preparados, não falando somente do conceito da Guerra mas sim de espantosos valores éticos que nos devemos reger perante a sociedade que nos observa, e é de forma atenta, que por vezes, sem nós próprios querermos nos realçam numa figura de exemplo. Isto significa que existem boas espectativas de que somos alguém que não andamos à deriva e detemos a responsabilidade na sua essência! Há que seguir esta doutrina.
Temos um rumo no mundo do Karaté, tentemos apenas treinar com a alegria/responsabilidade suficiente para que um dia, o sucesso nos apareça e os mais egoístas sejam também nossos fiés seguidores.
Não vale a pena apregoar, vale a pena tentar sem baixar os braços. Lutar com força e motivação, de seguida, alguém nos verá com outros olhos. Ser o exemplo. Vamos incutir ou pedir o que nós devemos e conseguimos realmente fazer.
OSS!
Sensei Armando.
ResponderEliminarAdorei este comentário. Bem, na verdade, gosto muito da sua escrita.
O caminho que encontrei no karaté, que infelizmente só o descobri há relativamente pouco tempo, é de alegria! Mas para descobrir quem somos temos de ser confrontados com duros obstáculos.
É nos momentos maus que nos ficamos, a nós e aos outros, a conhecer. Quando está tudo bem, não mostramos nada, somos só fachada.
Sensei, já não acredito na justiça...
Mais uma vez muito obrigado pelos seus comentários! São de facto extraordinários!
Diogo.
ResponderEliminarObrigado pelo teu comentário.
Aproveita o momento que estás a passar para dele tirar o máximo proveito.
Caro amigo Joardão:
ResponderEliminarNão tens nada que agradecer, pois apesar da minha linha ser Goju-Ryu tenho encontrado bastantes pessoas com muito valor (competências técnicas e pedagógicas, maneiras de estar na vida) nos outros estilos e nomeadamente na tua Associação.
Quanto ao já não acreditares na justiça, gostava que comentasses os dois posts sobre o tema no meu blog (http://karatedopt.blogspot.com/).
Grande Abraço
Armando Inocentes
Sensei.
ResponderEliminarLi atentamente os referidos artigos. Aliás, tenho acompanhado o seu blog, que é uma referência!
Oss!