O karaté vai ao longo do tempo, ou é suposto assim ser, influenciar o praticante, tornando-o um indivíduo melhor. Claro que para isso, como tudo na vida, é necessário estar no sítio certo com as pessoas correctas.
Com o passar dos anos e com a prática da nossa arte passamos a ser pessoas mais calmas, tolerantes e humildes. Aos poucos vamo-nos moldando aos valores marciais e a nossa vida ganha outro sentido.
No livro Bushido, escrito por Inazo Nitobé, há uma descrição interessantíssima que demonstra várias formas de encarar um mesmo problema. “(…) Nobunaga atribuiu a frase: “Matá-lo-ei, se o rouxinol não cantar a tempo”; a Hidéyoshi: “Obrigá-lo-ei a cantar para mim”; e a Iyéyasu: “Esperarei até que ele abra os lábios.””.
Apesar de todas as condicionantes existentes e das milhentas razões que estamos sempre arranjar uma justificação para os nossos erros, cabe-nos sempre a nós escolher quem queremos ser!
Caro José Jordão:
ResponderEliminarUma boa reflexão. E é bom que tragas este assunto à discussão, pois há por aí alguns mitos... e os mitos não são eternos!
Na realidade, "com o passar dos anos e com a prática da nossa arte passamos a ser pessoas mais calmas, tolerantes e humildes." Eu acrescentaria «alguns...»!
Porque para uns isso deve-se à prática do Karaté, quando a transportam para as suas vivências diárias. Para outros, como diz o Prof. Olímpio Bento, "a idade amolece-nos"!
No entanto para esses «alguns» que eu acrescentaria, a prática do Karaté torna-os tudo menos humildes ou honestos. Como diz o José Ramalho, «Conheço alguns Mestres - mestres de arrogância, mestres de desonestidade, mestres de conflito, mestres de desrespeito, mestres de insensibilidade, mestres de "aparências"». E nós também ... agora imagina se em vez de «alguns Mestres» passarmos a dizer «alguns praticantes»! Será que teremos de substituir o «alguns» por «muitos»? Mas teremos de nos interrogar sobre as causas disso... e não estarão elas a montante?
"Apesar de todas as condicionantes existentes e das milhentas razões que estamos sempre arranjar uma justificação para os nossos erros, cabe-nos sempre a nós escolher quem queremos ser!" É bem verdade, pois já Ortega e Gasset dizia "Eu sou eu e as minhas circunstâncias. Se não as salvo a elas, não me salvo a mim" (cito de memória).
Por vezes conseguimos escolher o que queremos ser, mas por vezes somos condicionados e acabamos por ser aquilo que fazem de nós.
O que também me faz recordar aquele velho provérbio árabe: "Quem quiser fazer algo encontra um meio. Quem não quiser fazer nada arranja uma desculpa."
Um grande abraço e continua!
Caro Sr. Armando,
ResponderEliminarAs suas palavras honrram todos os praticantes de Karate dentro e fora do Dojo, os seus comentários são sempre de reflexão e este particularmente porque toca em muitas feridas e muitos de nós não queremos ver os nossos pecados espiados, é fácil falar, difícil é mesmo executar.
Não sendo eu um exemplo a seguir, nem tendo pretenção a ser, muito devo ao karate para acabar com as desculpar e fazer o meu hoje diferente do ontem, muito caminho á a precorrer, muitas circunstãncias para salvar, mas uma certeza o karate me trouxe, começa em mim a mudança e a escolha de quem eu quero ser sou eu que a vou tomar.
Bem haja pela sua partilha
Fatima Amado
Cara Fátima Amado:
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras.
Aproveitei o meu comentário no blog do meu amigo Jordão para fundamentar um post no meu próprio blog (karatedo.pt - é só clicar ali no 1º das ligações).
Muitos de nós conseguem transpor o que se aprende no dojo para a vida diária. Mas isso depende também muito de quem está à frente do dojo... de modo que as suas palavras falam também pelo seu treinador (instrutor, mestre...).
Claro que todos nós escolhemos quem queremos ser, mas tanto para o bem como para o mal... No Karaté o problema reside na "manipulação dos espíritos" por parte de "alguns bem intencionados"... porque como diz o povo, "olha para o que eu digo, não lhes para o que eu faço".
Claro que a culpa não é só deles, pois há os que se deixam submeter, os que são influenciáveis, os que se deixam dominar, os que comem e calam - e mais tarde, ao estarem no outro lugar tornarão a situação reprodutiva.
Eu também devo muito ao Karaté - logo, devo muito (e não é pouco, em todos os sentidos) ao meu Mestre -, mas também devo muito aos meus alunos, pois com eles também tenho aprendido.
Fiquei contente ao ler o que expressa no último parágrafo do seu comentário. O caminho não existe, o caminho que há a percorrer faz-se caminhando...
Um abraço para si.
Armando Inocentes