domingo, 16 de janeiro de 2011

Treino de Instrutores

Ontem, no Hoitsugan, realizou-se mais um treino de instrutores da Associação Shotokan KarateDo – Portugal (ASKP).

Com o dojo cheio, e ainda assim a faltarem alguns colegas, tivemos uma excelente aula, ministrada pelo Instrutor-Chefe – Sensei Peté, com a intervenção de muitos dos presentes.

Acho extraordinário, e de uma grandeza enorme, os Instrutores Seniores treinarem lado a lado connosco os mais novos. Nesta casa todos praticam, todos somos realmente humildes karatecas!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Artes Marciais

Nos últimos dias, por diversos e curtos momentos, folheei umas revistas de artes marciais.

Embora não seja novidade para ninguém, constatei a existência de inúmeros artigos sobre um sem número de artes marciais, onde se incluem várias com o nome karaté. Também vos posso dizer, muitas delas de karaté só têm o nome!

Aliado à criação de novas artes marciais, situação que eu pessoalmente não compreendo nem aceito (!), vem o facto de criarem vestimentas para a prática de tais artes.

Em muitos casos os uniformes que usam vêm com vários emblemas, desenhos, símbolos, nomes, fitas e acessórios nos cintos, etc. Claro que tais fatos são exclusivos dos criadores das modernas actividades ditas marciais, pois sempre é mais algum (dinheiro) que entra na conta.

A verdade é que, é uma forma de marketing e presumo eu que venda, basta imaginar as criancinhas a ficarem todas contentes com um fatinho cheio de penduricalhos.

Neste momento não consigo prever, por muito imaginativo que seja, o número de actividades marciais que vão existir dentro dos próximos anos. Bem, em boa verdade, acho que já ninguém consegue contabilizar as existentes na presente data, quanto mais daqui a uns anos…

Mas não pensem que estas coisas só acontecem noutros países, pois dentro das nossas fronteiras, infelizmente e vergonhosamente, já temos essa praga.

O que me custa não é enganarem-me. O que me custa é pensarem que me enganam.


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Apego

Certo dia, morreu o guardião de um mosteiro Zen. Para decidir quem seria a nova sentinela, o mestre convocou os discípulos e disse:

- O primeiro que conseguir resolver o problema que eu vou apresentar, assumirá o posto.

Então, numa mesa que estava no centro da sala, colocou um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza. E disse apenas:

- Aqui está o problema!

Todos ficaram a olhar para a cena: o vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro! O que representaria? O que fazer? Qual o enigma? De repente, um dos discípulos saca da espada, olha para o mestre, dirige-se para o centro da sala e… Zazzz! Com um só golpe destruiu tudo.

- Você é o novo guardião. Não importa que o problema seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Olhar

O olhar, na nossa arte marcial, é um dos factores mais importantes.

Numa primeira fase da nossa longa caminhada no karaté, quando estamos a treinar olhamos mas não vimos nada. Estamos mais preocupados com outros factores e temos a cabeça cheia de outros pensamentos.

Com a continuação da prática vamos aprendendo a ver e passamos a tirar partido desse principal sentido.

Mas tão importante como o olhar é a capacidade de ler os sinais que nos são transmitidos pelo nosso adversário e pelo meio que nos rodeia, e aqui não me estou a limitar ao karaté praticado dentro do dojo.

Muitos praticantes, preocupados em fazer bem, perguntam para onde devem olhar quando estão em kumité. A mim ensinaram-me, e o Sensei Peté está constantemente a recordar-nos esse pormenor importantíssimo, que devemos centrar o nosso olhar nos olhos do adversário, pois eles (os olhos) são uma enorme fonte de informação.

Agora, não podemos olhar fixamente os olhos do nosso oponente e esquecer todo o resto, pois não podemos deixar de ver as outras partes do corpo. Este sentido deve ser treinado afincadamente, pois é uma mais valia para nós. E começa logo no kihon! Onde não devemos ter a nossa visão perdida no espaço. Também nas katas é uma excelente oportunidade para desenvolver esta capacidade.

Numa fase mais avançada, e não estou a falar de conhecimento próprio, há quem consiga ver-se de fora. Ou seja, consegue ter uma perspectiva mais abrangente de todo o meio e onde incluem o seu próprio corpo.

Mas não confundam as coisas. É que já ouvi dizer que há por aí uns mestres tão avançados que não precisam olhar e até fecham os olhos e fixam o olhar no tecto. Mas isso devem ser “coisas” muito avançadas. Quanto a esse estado avançado devo dizer que, já recebi ensinamentos de verdadeiros Mestres e nunca nenhum fez ou ensinou tal “truque”…


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Chávena de Chá

Um professor de filosofia foi ter com um mestre zen, Nan-In, e fez-lhe perguntas sobre Deus, o nirvana, meditação, e muitas outras coisas. O Mestre, ouviu-o em silêncio e depois disse:

- Pareces cansado. Escalaste esta alta montanha, vieste de um lugar longínquo. Deixa-me primeiro, servir-te uma chávena de chá.

O Mestre fez o chá. Fervilhando de perguntas, o professor esperou. Quando o Mestre serviu o chá, encheu a chávena do seu visitante e continuou a enchê-la. A chávena transbordou e o chá começou a cair do pires até que o seu visitante gritou:

- Pára. Não vês que o pires está cheio?

- É exactamente assim que te encontras. A tua mente está tão cheia de perguntas, que mesmo que eu responda não tens nenhum espaço para a resposta. Sai, esvazia a chávena e depois volta.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Estágios

Nesta fase da época existe um fervilhar de actividades de karaté, com maior destaque para os estágios associativos.

De uma forma geral, os centros iniciam os treinos em Setembro e passados cerca de 4 meses, conforme as associações, os praticantes estão aptos a realizar exames de graduação.

Daí os meses de Janeiro e Fevereiro terem inúmeros estágios com os referidos exames.

Neste fim-de-semana, a ASKP realiza dois desses seminários, e, Lisboa e na Covilhã, onde alguns dos instrutores seniores vão ministrar os treinos. Nestes casos concretos o Sensei Peté vai estar na Capital e o Sensei Pula na Serra da Estrela.

Estes encontros são extremamente produtivos, pois temos a oportunidade de treinar com colegas diferentes dos habituais do nosso dojo e receber ensinamentos num contexto diferente.


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O orgulho do samurai

Certa vez, um grande samurai foi procurar Hakuin, um mestre Zen.

- Existe o inferno ou o paraíso? Se existem, onde estão os portões? Por onde posso entrar? Como posso evitar o inferno e escolher o paraíso?

Ele era um simples guerreiro. Um guerreiro é sempre simples, caso contrário, não poderia ser um guerreiro. Um guerreiro só conhece duas verdades: a vida e a morte. A sua vida está sempre em jogo. Ele não veio aprender uma doutrina. Ele queria apenas saber onde estavam os portais, para que pudessem evitar o inferno e entrar no paraíso. E Hakuin, respondeu de um modo que só um guerreiro podia entender.

- Quem é você? – perguntou Hakuin.

- Sou um samurai – responde o guerreiro.

No Japão, ser um samurai é uma grande honra. Significa ser um guerreiro perfeito, um homem que não hesita em dar a sua vida. Para ele, vida e morte são apenas um jogo.

- Sou um samurai. Sou o líder dos samurais. Até o imperador me respeita. – disse o soldado.

Hakuin riu e disse:

- Tu, um samurai? Mais pareces um mendigo.

O orgulho do samurai foi ferido, o seu ego pisado. Ele esqueceu-se porque é que ali estava, puxou da espada e estava prestes a matar Hakuin.

Hakuin riu e disse:

- Esse é o portão do inferno. Com essa espada essa raiva, esse ego, assim se abre o portal.

Isso é algo que um guerreiro pode entender. Ele imediatamente, compreendeu: esse é o portal. E guardou a sua espada.

- Aí está o portal para o paraíso. – disse Hakuin.

- O inferno e o céu estão dentro de ti, ambos os portais estão em ti. Quando te comportas inconscientemente, aí está o portal do inferno. Quando estás alerta e consciente, aí está o portal do paraíso.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Entradas e Saídas

Na vida de um instrutor de karaté, à semelhança de todos os outros responsáveis pelo ensino de qualquer outra actividade, não deve haver maior tristeza que é a perda de um praticante.

Na nossa arte há coisas que não são fáceis de explicar, pois são demasiado profundas e só quem as vive consegue ter noção delas. As inúmeras dificuldades inerentes à prática do karaté criam fortes laços entre todos os intervenientes e, quando assim é, a perda de um elemento traz sempre mágoa.

Claro que, quanto maior é a permanência de um praticante num dojo – alunos mais graduados, mais saudades ficamos dele.

Às vezes dou por mim a pensar com quantas pessoas já treinei. Nos poucos anos que tenho de prática, já lá vão algumas centenas… Muitos, talvez a maior parte, já nem os conheço.

Parece-me que este é um sentimento comum em todos os dojos, e quanto maior for o centro pior! Pois há mais gente a deixar o caminho a meio…

Mas nem tudo é mau! Pois regularmente há praticantes que, depois de pausas, mais ou menos prolongadas, voltam à nossa companhia, e essa é uma alegria enorme!

Felizmente, nos últimos tempos, temos vivido bastantes regressos. Voltar a ter junto de nós pessoas que estimamos é uma satisfação brutal.


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Nada sei

Nos seus últimos momentos de vida, Sócrates disse aos seus discípulos:

- Quando eu era novo pensava que sabia muito. À medida que envelhecia e sabia mais, começou a acontecer-me uma coisa estranha: tomei consciência de que saber mais, me levava a saber menos.

E, por fim, quando o Oráculo de Delfos declarou que Sócrates era o homem mais sábio do mundo, o povo de Atenas ficou contente e foi ter com Sócrates, mas este disse:

- Voltem para trás e digam ao Oráculo que a sua profecia está errada. Sócrates não sabe nada.

As pessoas ficaram chocadas. Dirigiram-se ao oráculo, mas o oráculo riu e declarou:

- Foi por essa razão que o declaramos o homem mais sábio do mundo! Só as pessoas ignorantes é que pensam que sabem.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Keiko Osame

No Japão, nesta fase do ano, há algumas tradições nas artes marciais, que as escolas de karaté fazem questão de registar e dar ênfase: keiko osame, keiko hajimé, kagami biraki e kan geiko.
Em grosso modo podemos dizer que:
O Keiko Osame é o último treino do ano.
O Keiko Hajimé é o primeiro treino do ano.
O Kagami Biraki a cerimónia da abertura do espelho.
O Kan Geiko é o curso de inverno.
Nos Açores, os Sensei António Mota e Paulo Telheiro, aproveitaram o último treino de 2010, reuniram alguns dos praticantes e cumpriram esta importante tradição. Mais uma excelente acção do grande grupo daquele arquipélago.
A realização destes treinos especiais são realmente relevantes e quem os faz demarca-se, pela positiva, de todos os outros. Por vezes é preciso tão pouco para fazer muito. Não podemos estar sempre à espera que nos façam e ofereçam tudo, basta ter um pouco de imaginação e obtemos resultados extraordinários.

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Cortar Lenha
Um jovem com grande habilidade e rapidez no corte de lenha, procurou um mestre, o melhor cortador de lenha da região e pediu para ser aceite como seu discípulo, a fim de aperfeiçoar os seus conhecimentos. O mestre concordou e começou a ensiná-lo. Não se passou muito tempo, até o discípulo julgar ser melhor que o mestre, desafiando-o para uma competição em público. Tendo o mestre aceite o desafio, tudo foi marcado, preparado e teve início a competição. O jovem trabalhava no corte da lenha sem parar, e, de vez em quando, olhava para conferir como estava o trabalho do mestre.
Para grande surpresa do jovem, o mestre encontrava-se muitas vezes sentado, tendo isto ocorrido durante toda a competição. E isto, fortaleceu ainda mais a determinação do jovem, que continuou a cortar a lenha e a pensar:
- Coitado, o mestre realmente está muito velho...
Ao término da competição, foram medir os resultados, e o mestre havia cortado mais lenha que o discípulo. O jovem indignado disse:
- Não consigo entender, não parei de cortar lenha o dia todo, com toda a minha energia, e cada vez que eu olhava o senhor estava a descansar!
O mestre respondeu:
- Não meu jovem, eu não descansava apenas. Eu amolava o meu machado. Tu, tão empolgado estavas em cortar mais lenha, que te esqueceste desse pequeno detalhe. Afiar o teu próprio machado! E por isso, a tua produtividade caiu e tu perdes-te.

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011

Há uns tempos atrás via os anos de dois mil e tal como muito distantes... Mas o tempo não parou e eis que já estamos em 2011!...
A chegada de cada novo ano faz-nos acreditar que desta vez é que é a valer. Não vamos desperdiçar mais um ano e temos de o aproveitar para cumprir os nossos desejos sempre adiados.
Para este novo desafio, de 2011, só queria ter a coragem para dar o passo em frente. Mas há tantas condicionantes e laços que se criam...
Sobre este mesmo assunto, e sei que para alguns estou a escrever meias palavras, deixo mais um conto que vem mesmo a calhar.
Feliz ano novo para todos.

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Atire a vaca no precipício
Certa vez, quando o Mestre e discípulo peregrinavam por distantes pastagens, foram acolhidos por uma família pobre, muito simpática, mas que vivia em condições miseráveis.
Embora fossem boas pessoas, os seus recursos materiais eram muito limitados. Sustentavam-se, graças a uma vaca magricela que fornecia o leite para se alimentarem e o pouco que sobrava, vendiam para ganhar uns trocos. Na hora da despedida, o discípulo com pena daquelas pessoas tão simpáticas, perguntou ao mestre se não podiam fazer nada por eles. O sábio Mestre disse-lhe:
- Atira a vaca no precipício.
- Mas Mestre...
- Atira a vaca no precipício ou desaparece com ela! - disse o Mestre.
O discípulo, sem compreender a intenção do Mestre, cumpriu os seus desígnios ainda que muito contrariado. E assim, a família ficou sem a vaca.
Os anos passaram-se e o discípulo, cheio de remorsos pelo que fizera, não voltou a ter paz. Para se redimir, decidiu então, pedir perdão à família e resolveu voltar àquela região. Mas, para seu espanto não conseguiu reconhecer a região. Onde antes havia uma região árida, encontrou terras cultivadas. Próximo de onde estava o casebre, encontrou um palacete. Angustiado, supôs que a família fora obrigada a vender a casa e o terreno, pois já não tinham a vaca para sobreviver. Aproximou-se da bela casa e encontrou os seus proprietários no jardim, divertindo-se. Para seu espanto, verificou que estas eram as mesmas pessoas que antes encontrara, agora com uma aparência mais saudável e feliz. Sem entender nada, o discípulo perguntou que milagre tinha ocorrido naquele lugar. Com um sorriso no rosto, o pai respondeu:
- Milagre, nada! Um dia, a nossa vaca desapareceu. Tivemos de procurar um novo meio de subsistência. Trabalhámos muito e procurámos formas alternativas. Ao longo dos tempos, fomos prosperando.
Então, o Discípulo compreendeu a sabedoria do Mestre.