quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Olhar

O olhar, na nossa arte marcial, é um dos factores mais importantes.

Numa primeira fase da nossa longa caminhada no karaté, quando estamos a treinar olhamos mas não vimos nada. Estamos mais preocupados com outros factores e temos a cabeça cheia de outros pensamentos.

Com a continuação da prática vamos aprendendo a ver e passamos a tirar partido desse principal sentido.

Mas tão importante como o olhar é a capacidade de ler os sinais que nos são transmitidos pelo nosso adversário e pelo meio que nos rodeia, e aqui não me estou a limitar ao karaté praticado dentro do dojo.

Muitos praticantes, preocupados em fazer bem, perguntam para onde devem olhar quando estão em kumité. A mim ensinaram-me, e o Sensei Peté está constantemente a recordar-nos esse pormenor importantíssimo, que devemos centrar o nosso olhar nos olhos do adversário, pois eles (os olhos) são uma enorme fonte de informação.

Agora, não podemos olhar fixamente os olhos do nosso oponente e esquecer todo o resto, pois não podemos deixar de ver as outras partes do corpo. Este sentido deve ser treinado afincadamente, pois é uma mais valia para nós. E começa logo no kihon! Onde não devemos ter a nossa visão perdida no espaço. Também nas katas é uma excelente oportunidade para desenvolver esta capacidade.

Numa fase mais avançada, e não estou a falar de conhecimento próprio, há quem consiga ver-se de fora. Ou seja, consegue ter uma perspectiva mais abrangente de todo o meio e onde incluem o seu próprio corpo.

Mas não confundam as coisas. É que já ouvi dizer que há por aí uns mestres tão avançados que não precisam olhar e até fecham os olhos e fixam o olhar no tecto. Mas isso devem ser “coisas” muito avançadas. Quanto a esse estado avançado devo dizer que, já recebi ensinamentos de verdadeiros Mestres e nunca nenhum fez ou ensinou tal “truque”…


««»»


Chávena de Chá

Um professor de filosofia foi ter com um mestre zen, Nan-In, e fez-lhe perguntas sobre Deus, o nirvana, meditação, e muitas outras coisas. O Mestre, ouviu-o em silêncio e depois disse:

- Pareces cansado. Escalaste esta alta montanha, vieste de um lugar longínquo. Deixa-me primeiro, servir-te uma chávena de chá.

O Mestre fez o chá. Fervilhando de perguntas, o professor esperou. Quando o Mestre serviu o chá, encheu a chávena do seu visitante e continuou a enchê-la. A chávena transbordou e o chá começou a cair do pires até que o seu visitante gritou:

- Pára. Não vês que o pires está cheio?

- É exactamente assim que te encontras. A tua mente está tão cheia de perguntas, que mesmo que eu responda não tens nenhum espaço para a resposta. Sai, esvazia a chávena e depois volta.

Sem comentários:

Enviar um comentário